Words by Jane Ryan
Originally from: Como
Profession: Bartender
At: London
Algumas histórias são melhor contadas através dos sentidos. Esta frase bastante poética é uma escolha apropriada para ser o lema de Simone Caporale, um bartender conhecido por seu trabalho com drinks que parecem saídos da fábrica de chocolate de Willy Wonka, com incenso, copos especialmente concebidos e contrastantes texturas e sabores, do que de um bar.
Encontro-o numa típica sexta-feira londrina, em um café em Shoreditch, paraíso dos hipster locais. Simone, inclusive, poderia facilmente ser confundido com um deles, pois chega de barba, tatuagens à mostra e um chapéu de caminhoneiro. A diferença é que ele não se leva tão a sério como outros que frequentam esta região da cidade.
Simone começou em um pequeno café na sua cidade natal de Como, na Itália, e chegou a Londres em 2009, com apenas bagagem de mão e 2000 euros, para viver no que ele para ele era a capital do mundo da coquetelaria.
"Para mim, Londres ainda é a melhor para se beber, graças à cultura que os londrinos têm de estar abertos a novas coisas. Nunca senti que não estávamos avançando em nossa abordagem de sabores e drinks no Artesian", diz Simone.
Ele rapidamente conseguiu um emprego como bartender no Roast, no Borough Market, perto da London Bridge. Ali, rodeado pelos produtos sazonais mais frescos de Londres, ele aprendeu o estilo londrino de preparar drinks.
Enquanto muitos mudam para uma cidade grande cheio de sonhos, que muitas vezes não são realizados, para Simone Londres foi a plataforma de lançamento de uma carreira espetacular.
"O Artesian não está no negócio de drinks. Drinks são imateriais. Eles são soberbos, mas isso não é o que eles estão vendendo. O que eles estão vendendo por 20 libras é a chance de viver como um milionário", disse uma vez Jacob Briars, da Bacardi.
Ele tem razão. O estilo de coquetelaria que Simone e seus colegas lançaram lá não tem nem os intrincados detalhes de Marian Beck, nem a vida e a alma da abordagem festiva de Jake Burger. Em vez disso, eles simplesmente fazem as duas coisas. Jim Meehan uma vez descreveu o Artesian: "é uma competição sem limites para ver quem se diverte mais assim que você entra pela porta, acho sensacional".
Parece incrível que um estabelecimento cinco estrelas como o Langham possa confiar em sua equipe de forma implícita a ponto dela ser capaz de rasgar um menu premiado e investir milhares de libras no próximo. "Sim, é incrível a quantidade de liberdade que o Langham nos dá, mas ganhamos essa confiança trabalhando muito duro, para provar que ser experimental e sempre forçando os limites é melhor do que oferecer serviço de bar clássico. E, para os investidores, isso tem que ser provado em dinheiro, não com prêmios."
Durante os anos de Simone no Artesian, ele entreteve não apenas a nata da indústria de bebidas e hospitalidade, mas também hóspedes, londrinos locais e até mesmo uma ou outra celebridade.
"Se eu não sentisse que estava progredindo, eu não ficaria tantos anos no bar. Mas não descansamos em nossos louros, sempre temos que perguntar qual é a próxima coisa que podemos fazer. E é importante ser um time, compartilhar ideias, novas sugestões de serviço com todos, antes de tomar qualquer decisão final", diz Simone.
Seus colegas bartenders confirmam: "você acha que Alex e Simone só fazem os drinks e vão embora? Não, eles ficam lá conosco, até as 3 ou 4 da manhã, desmontando sua estação, esfregando e polindo", diz um deles.
Quando perguntado quem é seu maior mentor, a resposta é óbvia. Muitas pessoas deram a Simone bons conselhos e desempenharam um papel ativo em sua carreira, mas a pessoa que moldou sua habilidade, estilo e lhe deu uma oportunidade fenomenal, foi claramente Alex Kratena.
"Alex e eu trabalhamos muito bem juntos, ele me ensinou uma quantidade incrível de coisas e eu serei eternamente grato. Mas se você falar sobre grandes duplas de bar, como Sam Ross e Michael McIlroy ou Sean Muldoon e Jack McGarry, bem, eu teria que dizer que o Artesian é mais do que apenas eu e Alex. Adoro quando eu e Alex viajamos e amigos mandam email dizendo que foram ao bar a a experiência foi ótima mesmo assim. Isso dá muito orgulho, é um jogo coletivo, não individual".
O que torna Simone único é que, mesmo sendo um dos mais premiados bartenders do mundo, todos os dias milhares de pessoas o assistem preparando coquetéis simples e fáceis de fazer no canal de Jamie Oliver no YouTube, o Drinks Tube, desde 2014. A indústria pode conhecê-lo por suas incríveis e complexas criações, mas para que a cultura de coquetéis possa atingir a grande massa, é preciso um embaixador. O que Jamie Oliver fez por comida, Simone pode ser capaz de fazer para os coquetéis.
"Eu amo, porque é uma maneira simples e clara para mostrar a paixão em fazer um coquetel E é divertido! É incrível que, graças a Jamie e a equipe, as pessoas podem experimentar as receitas e desfrutar coquetéis em casa.
Isso é ruim, para os bartenders? Ele não pensa assim. "Você não vai a um bar para beber. Esta é apenas a desculpa. Todos podemos beber em casa. Uma das razões que eu comecei como bartender, por volta de 2003, foi porque eu estava fascinado por este ambiente mágico que um bar cria. Pode ser uma festa todas as noites. Você vai ver seus amigos, ter uma experiência, conhecer pessoas. Eu conheci minha esposa em um bar."
Há quem diga que o bartender nunca vai chegar ao mesmo status e respeito de um chef, simplesmente porque a comida é uma necessidade, enquanto coquetéis são um luxo. Mas, cada vez mais, bartender está deixando de ser um "bico", uma etapa em uma carreira, para se tornar uma profissão respeitada.
Durante seus anos como bartender, Simone se apaixonou por um bar e um destilado.
Ao visitar Cuba, em 2011, ele conseguiu arrumar um jeito de fazer um turno no El Floridita, o famoso bar preferido de Hemingway e local de nascimento do Daiquiri.
"Eu sempre fui fascinado pela história da coquetelaria em Cuba e como ela afetou os drinks europeus e americanos, especialmente durante a Idade de Ouro dos coquetéis. O Daiquiri é uma das minhas bebidas favoritas e eu queria sentir o que era como misturar um No mesmo lugar em que nasceu, há mais de 100 anos.
Quando pela primeira vez cheguei atrás do bar, com o meu colete prateado do Artesian, pronto para passar algumas horas com o resto dos cantineros, eu estava tremendo como um bebê. Eu não podia acreditar que eu estava finalmente atrás do balcão do El Floridita. Ele foi remodelado pela última vez há 60 anos. Obviamente tudo é de madeira, existem alguns vazamentos sob o bar e algumas geladeiras não funcionam direito. Mas afora isso, a música cubana ao vivo, a percussão e o perfume da fumaça de charuto me enebriaram."
Mas não é pelo rum que Simone é conhecido.
"Mezcal para mim é sinônimo de tradição e cultura. Eu não estou falando apenas sobre o processo de destilação, mas todo o ambiente de Oaxaca. Mezcal significa tudo lá, para um recém-nascido, um casamento, um partido, as funções religiosas e morte. É uma parte de cada momento de suas vidas. Quando estive lá nos campos ou nas montanhas, onde mezcal é artesanalmente feito, eu percebi que é muito mais do que está em uma garrafa ou atrás de um rótulo, mesmo antes de se tornar uma marca específica. Eu pude ver que o mezcal líquido é um símbolo de sobrevivência para as comunidades. Eu realmente abri os olhos para o fato de que, usando diferentes tipos de agaves (tequila usa apenas o agave "weber azul") você pode conseguir diferentes notas de degustação, assim como usando diferentes variedades de uvas no vinho".
"Na minha primeira viagem ao México, um famoso bartender me disse depois que você for a Oaxaca e experimentar mezcal com as mesmas pessoas que dormem em uma casa feita de tijolos de barro, com o burro dentro das mesmas quatro paredes onde seu filho brinca e cresce. Depois de os ouvir falar em linguagem zapoteca, de tentar comprar um tanque de plástico de mezcal como uma maneira de dar-lhes algum dinheiro e eles se recusarem, oferecendo-o gratuitamente, simplesmente porque essas pessoas estão sendo agradáveis para você. Depois de elas serem acolhedoras como um hotel de luxo de cinco estrelas, sim suas mãos ainda pode estar sujas e seu rosto marcado por longas horas de trabalho sob o sol, mas através dos seus olhos você pode ler que você é considerado parte de sua família. Depois de tudo isso, sua vida e percepções deste destilado mudarão para sempre e quando você experimentar um tequila, vai achar que falta alguma coisa. Quando ele disse isto, pensei que era completamente dramático e muito geeky, mas então eu fui a Oaxaca e eu tive que mudar de opinião."
Esta entrevista foi feita em 2014. Após vencer por 4 vezes o título de Melhor Bar do Mundo, Simone e Alex deixaram o Artesian em 2015. O outros membros da equipe também pediram demissão logo em seguida. Afinal, é um esporte coletivo.
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