Já ouviu falar dos Rum Runners?

Words by Jane Ryan

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De humilde construtor de barcos a procurado pela Lei Seca, William McCoy foi o rum runner (apelido dado aos contrabandistas de rum durante a Lei Seca) original. Navegando na famosa rum row (linha imaginária no limite das águas territoriais dos EUA), forneceu álcool para a sedenta costa leste dos Estados Unidos, desde a Flórida até o extremo norte, no Maine.

Se você fala inglês, há á uma boa chance da expressão the real McCoy soar familiar. O fato de que o nome de um homem passou a significar "a coisa real" ou "o artigo genuíno" na maioria das partes do mundo de língua inglesa, demonstra o quão bem respeitado William "Bill" McCoy era.

Mas, para o mundo dos destilados, ele era mais do que um trapaceiro glamurizado. Foi o "rum runner" original, que se recusou a diluir ou adulterar os destilados contrabandeados que vendia e, por isso, os drinks nos speakeasies de Nova York não só eram ótimos, mas também seguros para a saúde.

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Quem era Bill McCoy? Longe do gângster astuto ou perspicaz que você esperaria de um contrabandista de rum, Bill era um homem bastante simples e parecia viver sua vida por um rígido código moral. Na verdade, ele era um abstêmio que não tocou em uma gota dos destilados que transportou para os EUA. E por isso, ao longo dos anos, sua figura tem sido romantizada como um homem honesto, em um momento em que o governo foi para a cama com o Movimento de Temperança, a Liga Anti-Saloon e a KKK.

Bill começou sua carreira criminal como um inocente construtor de barcos. Nascido em 1877, veio de uma família de pedreiros, mas escolheu uma vida no mar e matriculou-se na Escola Náutica da Pensilvânia, onde treinou a bordo do USS Saratoga, cruzando o Atlântico. Apesar de ter uma reputação de ser um pouco arrogante, ele se formou como primeiro de sua classe e mudou-se para a Flórida, onde ele e o irmão começaram um negócio de concepção e construção de barcos.

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Em 1919, aos 42 anos e já com a reputação de ser um construtor de barco talentoso, William casou-se com Maude Clark, uma jovem de 20 anos. No entanto, quando a 18ª emenda entrou em vigor, em 16 de janeiro de 1920, impondo a Lei Seca, as coisas haviam piorado. Separou-se de Maude após apenas seis meses de casamento, ambos os seus pais estavam mortos e o crescente declínio na economia derrubou a demanda por construção de iates.

Isso levou Bill a um encontro casual com um homem que já estava vendendo bebida pela costa. Ele percebeu que havia uma oportunidade para fazer dinheiro. Apesar de ser abstêmio, Bill discordava da Lei Seca. Conseguir convencer seu irmão Ben foi um pouco mais difícil, mas eventualmente eles chegaram a um acordo e Bill viajou para Gloucester, Massachusetts com US$20.000 para comprar um barco. Ele escolheu uma escuna de pesca, o Henry L. Marshall.

Durante os cinco meses de reforma no Henry L. Marshall, Bill apaixonou-se por outro barco, o elegante e majestoso (114 pés, 60 toneladas) Arethusa. Como não tinha dinheiro para comprá-lo, jurou que o faria assim que fizesse sua fortuna no contrabando.

O primeiro trabalho

McCoy foi para Nassau, nas Bahamas, que na época fazia parte da Grã-Bretanha e, portanto, um local para operar de forma legal. Lá ele pagou o mestre do porto para registrar o Henry L. Marshall como um navio britânico, duplicando seus papéis de transporte. Asim, se permanecesse pelo menos três milhas fora da costa dos EUA, ele nunca estaria quebrando nenhuma lei ao transportar mercadorias de um destino legal para outro.

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Seu primeiro trabalho foi um carregamento de 500 caixas de uísque de centeio para a Geórgia. Ao aguardar fora da costa para entregar o álcool, Bill tinha navegado para dentro de águas dos EUA e pensou ter visto um barco da guarda costeira. O medo foi o suficiente para garantir que jamais voltasse a correr o risco de entrar no raio de três milhas. Nos anos seguintes, ele passou a usar os "barcos de contato", pequenos barcos a remo que transportavam a bebida até a costa.

Nesta época, a guarda costeira estava totalmente despreparada para a Lei Seca. Eles ainda tinham suas obrigações de proteger as fronteiras, atuar como salva-vidas e orçamentos restritos, graças à perda das receitas de álcool devidas ao governo.

Logo na primeira viagem, Bill teve um incrível lucro de US$15.000, mais do que ele havia ganho em cinco anos como construtor de barcos. Ele voltou para Nassau, pegou dinheiro emprestado de seus clientes gangsters e foi comprar o Arethusa, que foi rebatizado como Tomoka. Mas muitos dizem que Bill sempre pensou nele como Arethusa.

Imitadores e a Guarda-Costeira

A guarda costeira original, que existia quando a Lei Seca passou a vigorar, foi amplamente substituída por uma força-tarefa mais séria e dedicada logo no primeiro ano. Uma mulher severa, Mabel Walker Willebrandt, foi nomeada procuradora-geral assistente e demitiu 700 de seus próprios inspetores, para substituí-los por uma nova geração de jovens diligentes, que acreditavam na Lei Seca e não iriam fechar os olhos ao contrabando de álcool.

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Não demorou muito para William McCoy tornar-se o inimigo número um da luta de Mabel Willebrandt por um país livre de álcool.

Embora esta luta preocupasse políticos, a verdadeira batalha estava sendo travada na água. Os contrabandistas ao longo da "linha do rum", que agora abrangia toda a costa leste, foram rápidos em atualizar seus motores para fugir da guarda costeira e rapidamente teve início uma guerra de tecnologia, com atualizações constantes. Os barcos começaram a ser construídos com fundos falsos, para esconder a bebida, e faziam visitas freqüentes às docas, para buscar novas maneiras de burlar as autoridades.

Embora houvesse muitos barcos que contrabandeavam álcool, criando um mundo flutuante alternativo ao largo da costa, nenhum deles era tão consistente ou confiável quanto Bill. Por se recusar a alterar seus produtos, os clientes tinham que pagar mais caro, mas sempre valia a pena. A mídia começou a glorificá-lo, enquanto os perseguidores ineficientes pareciam policiais de comédia, nunca capturando seu homem.

Captura

Em 1923, William McCoy era como o inimigo público número um, se tal conceito tivesse existido na época. Verbas estavam jorrando para equipar a guarda costeira e eventualmente dobrar o seu quadro. Ela também recebeu armas e tinha começado a disparar tiros de alerta nos barcos, às vezes matando os contrabandistas.

Um agente federal, Pete Sullivan, foi enviado secretamente para capturar William McCoy, mas a comunidade de contrabandistas rapidamente o identificou como um agente. Ele quase foi morto, mas Bill deteve os responsáveis, dizendo que vivia de acordo com um código moral rígido e matar não fazia parte dele. Não era um homem violento. Mais tarde, esta atitude teve repercussões benéficas enormes.

Pouco depois disso, o capitão do Henry L. Marshall desembarcou em Nova York para beber uma noite e, bêbado, acabou se gabando a um agente disfarçado suas táticas para contrabando de rum. Uma confissão como essa era suficiente para o governo federal entrar em águas internacionais e prender o capitão por suas trocas de mercadoria com os barcos de contato, já que isso era uma violação às leis dos EUA.

Um mandado de prisão foi expedido para ambos os irmãos McCoy, mas Bill era o alvo principal. Ele contratou advogados para lutar pelo Henry L. Marshall e então decidiu sumir por um tempo. Viajando para o norte, em direção à Nova Scotia, o barco fez meia volta graças a um novo acordo entre o Canadá e os EUA. Bill chegou na ilha francesa de Saint Pierre, ao largo da costa de San Pierre e Miquelon. Lá seria o ponto mais ao norte da linha do rum. De Saint Pierre, Bill teria melhor acesso ao scotch e gin da Europa, enquanto mantinha rum e bourbons vindo de Nassau.

No entanto, foi um projeto de curta duração. Em agosto de 1923, a guarda costeira avistou o Tomoka e enviou um pequeno barco disfarçado para aproximar-se do navio. Bill sempre alegou ter pensado que eles eram piratas seqüestradores e por isso abriu fogo. A guarda costeira sustentou que Bill sabia quem eles eram. O acontecimento incitou Mabel Willebrandt a exigir a prisão de Bill a qualquer custo.

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Em 23 de novembro de 1923, o U.S.S. Seneca, da Guarda Costeira dos EUA, entrou em águas internacionais para prender Bill. Apesar de McCoy ostentar a bandeira britânica e estar fora do raio de três milhas dos Estados Unidos, o governo americano tinha feito um acordo recente com a Grã-Bretanha, por isso poderiam prendê-lo, estivesse a três milhas ou doze. Não havia saída e um barco a remo foi despachado com o segundo no comando para tomar o Tomoka e William McCoy.

Prisão e o fim da Lei Seca

Para Bill, os dias de rum runner tinham acabado. Ele foi condenado a nove meses de prisão, após negociar com o governo a retirada de todas as acusações contra seu irmão Ben. Enquanto aguardava o julgamento, o agente federal Pete Sullivan veio pagar sua dívida e apresentou Bill a todos, de Mabel Willebrandt a senadores e juízes, criando assim a oportunidade de negociação.

A vida não era difícil para Bill na prisão e ele acabou transferido para outra penitenciária quando a imprensa o flagrou treinando boxe com o diretor. No Natal de 1924, Bill voltou a ser um homem livre.

Ele retornou a Flórida e para seu negócio de construção de barcos com Ben. Não houve nenhuma tentação em voltar ao contrabando. A Lei Seca iria durar mais nove anos e, durante esse tempo, muitos contrabandistas navegariam pela famosa linha do rum, mas nenhum era tão eficiente e confiável como the real McCoy.

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