Escrito por Anistatia Miller and Jared Brown
A Lei Seca nos Estados Unidos durou de 1920 a 1933 e foi apoiada por diversos grupos, como Christian Women’s Temperance Movement e Ku Klux Klan. Com a intenção de banir a pobreza e o vício, apesar do fato de que o consumo declinou, mortes por intoxicação alcoólica dispararam devido a má qualidade dos produtos alcoólicos que substituíram os produtos bem feitos que foram considerados ilegais.
No auge da Lei Seca, Nova Iorque prendeu 100.000 destiladores clandestinos e sujeitos como Al Capone controlaram contrabandos desde o Canadá até a Flórida.
A Lei Seca nos Estados Unidos parece ser um período na história que deixa muitos mixologistas modernos com fixação pelos bares clandestinos, glamour, contrabandistas e garrafinhas de bolso. Mas esses foram mesmo os bons velhos tempos?
A Lei Seca realmente inspirou uma geração de adultos a agir como crianças nas escolas, procurando novas maneiras de tomar um gole escondido, entre piscadas e risadas? Foi realmente um período de grande inspiração jovens e ousados mixologistas? Ou podemos remover os óculos escuros por um momento e ver o “Grande Experimento” como algo mais sombrio – um movimento político, evangélico, e chauvinista que tomou a terra dos homens livres e bravos pelo pescoço?
Por que a Lei Seca aconteceu? Simples. O desenvolvimento da água pública potável deu aos políticos e evangélicos uma brilhante e vigorosa espada para empunhar contra a “bebida do diabo”, e qualquer pessoa com uma agenda conservadora viu a moderação como a plataforma para lançar a idéia. Tal ponto de alta moral ter se desenvolvido em primeiro lugar teria sido impensável algumas décadas antes, quando a água poderia conter uma dúzia de doenças, nada menos que a tifóide, cólera, e-coli e disenteria. Desde a Dinastia Chinesa Shang até o Iluminismo, humanos sabiam que uma taça de vinho, um copo de cerveja, uma dose de destilado poderia manter o sistema digestivo intacto e ajudar a passar dos trinta anos de idade! O fato era que os humanos começaram a viver mais depois que descobriram as bebidas fermentadas e destiladas.
No começo do século 19, quando a água era perigosa, os americanos consumiam em média cerca de 7 galões de destilados por ano, consistindo na maioria rum, conhaque, gin e uísque. Café e chá eram importados caros e cervejas ale e stout possuíam curta validade. Os "Pilgrim Fathers" acreditavam amplamente que “beber água iria infectar o corpo deles com doloridas enfermidades e graves doenças". Água gelada era considerada perigosa, especialmente durante o verão. Bombas de água públicas na Filadélfia possuíam placas que diziam: “morte a ele que bebe rapidamente.”
Na cidade de Nova Iorque, os esgotos contaminaram o rio East e o rio Hudson, como também os poços rasos e mananciais infestados de mosquitos de Manhattan. Como a população nova-iorquina começou a crescer e implorar por água fresca, a cidade em 1837 começou a construir um aqueduto para transmitir água a 40 milhas de distância de Croton para um reservatório situado aonde eventualmente se tornou o Central Park. O consumo de bebidas baixou com a chegada de água fresca e gelada. E não apenas em Nova Iorque: estima-se que em 1845, o consumo de álcool declinou para um pouco mais de 1.5 galões por ano.
A descoberta do brilhante jovem químico alemão Johann Tobias Lowitz em 1785 também serviu para transformar a maneira com que os moradores da cidade moravam cerca de meio século depois. Ele mostrou que apenas agitando destilados de grãos com carvão em pó eliminava os óleos e ésteres que causam o gosto áspero de algumas bebidas. Isso melhorou a qualidade da vodka, rum e de outros destilados neutros, e também inspirou pessoas como Henry Doulton, que projetou os filtros cerâmicos de água carregados de carvão manganoso para remover as bactérias da água.
Água potável foi inegavelmente um conceito revolucionário dos dois lados do Atlântico. Também, finalmente, trouxe aos religiosos radicais uma maneira de se erguer, iniciando um novo e potente capítulo no movimento contra o consumo de álcool que, na realidade, começou logo após a Revolução Americana, nascido de um dos panfletos publicados por um dos signatários da Declaração da Independência.
Em 1789, um grupo de 200 fazendeiros de Connecticut começou uma campanha para banir a produção de uísque, justamente quando a feita por imigrantes escoceses-irlandeses estava em ascenção meteórica, trazendo às destilarias de rum em New England uma corrida pelo dinheiro. Com o influxo de destilarias estrangeiras, eles se alinharam atrás do panfleto de 1784 escrito pelo Dr. Benjamin Rush intitulado "Um Inquérito sobre os Efeitos das bebidas destiladas no corpo humano, e as suas influências sobre a felicidade da sociedade".
Rush não era a favor da Lei Seca. Baseado em suas observações do excesso do consumo entre os soldados durante a Revolução Americana, ele acreditava que o alcoolismo era uma doença tratável. Sua mensagem era a moderação, mas vários evangélicos fervorosos pregando em áreas rurais acreditavam que a abstinência era a única cura. Eles manipularam as palavras dele para servir à sua causa.
Um chamado para a restrição de venda e consumo dos "destilados fortes" ressoaram em oito estados, começando com Virgínia (1800) e Nova Iorque (1808). Pregadores proclamaram dos seus púlpitos que o excesso de bebida leva à corrupção moral, prostituição, abuso marital e crime não premeditado. Duas campanhas que ainda não haviam ganho muita força nos seus direitos, a abolição da escravatura e sufrágio das mulheres, foram adicionadas as plataformas para dar formato ao movimento.
The American Temperance Society (ATS) foi formada em Boston em 13 de fevereiro de 1828 pelos pregadores Lyman Beecher e Dr. Justin Edwards e os seus incentivos às reformas sociais logo ecoaram pela nação. Em uma década, a ATS adquiriu 1.5 milhão de membros, 10% da população total do país. Ativistas fizeram uma campanha dura. Eles informaram os contratantes que servir álcool para os seus empregados como parte da provisão diária reduz a produtividade. Eles disseram às mulheres que álcool deixava seus maridos menos confiáveis. Mas foi preciso algo mais forte que um movimento religioso para transformar a opinião da população urbana
A América durante o meio dos anos 1840s experimentou o seu primeiro grande fluxo de imigração. Alemães procurando por liberdade política e intelectual chegaram trazendo com eles suas tradições culturais: a árvore de Natal, Jardim de Infância, cachorro-quente, hamburgers e algo para digeri-los. O influxo de refugiados das fracassadas revoluções de 1848 trouxeram mais profissionais e empreendedores. Eles introduziram um nova bebida para refrescar – a cerveja lager. Nicholas Seitz abriu uma cervejaria para produzir lager na 13th Street em Manhattan naquele mesmo ano, suprindo o grande número de cervejarias ao ar livre (beer gardens) que haviam surgido em Greenwich Village.
Esses lugares não eram bares. As cervejarias ao ar livre eram lugares voltados para a família, aonde beber uma cerveja lager era apenas uma das atrações. As cervejarias davam aos maridos, esposas, crianças e amigos a oportunidade de socializar na sua língua nativa, ouvir música e assistir teatro ao vivo, saborear salsichas (weiner schnitzel) e sauerbrauten, bem como aproveitar o ar fresco de um jardim viçoso. Castle Garden, Madison Square Garden, The Bohemian Hall e Beer Garden eram apenas alguns das centenas de estabelecimentos que abriram, para o desânimo dos respeitáveis nova-iorquinos e outro grupo de imigrantes bebedores fervorosos – os irlandeses.
A Grande Fome Irlandesa, entre 1845 e 1852, instigou uma massa de êxodo empobrecida de fazendeiros arrendatários e trabalhadores. Diferente dos alemães, os recém-chegados irlandeses não eram tão ricos e educados. Vários eram de pequenos vilarejos ou do interior e importaram o gosto pela cultura do uísque, cerveja stout e tavernas. Centenas de bares abriram as portas no Bowery e no notório distrito Five Points, suprindo para essa nova população transplantada que sentia-se universalmente não bem-vinda em qualquer outro lugar de Nova Iorque e afora. Cartazes com “Nenhum Irlandês Precisa se Inscrever” escrito abaixo de cada cartaz de “Necessita-se de ajudante” estavam em toda parte.
Agora, a temperança tornou-se um problema patriótico que viu sua apoteose na formação do Partido Americano (mais conhecido como “Os que Não Sabem Nada”, que possuía adesão limitada a homens americanos de descendência britânica e que faziam campanhas contra a imigração). Como uma forma de ressaltar as diferenças culturais entre imigrantes e americanos nativos, os líderes pediam por proibição de álcool para estrangeiros “bêbados” estabelecidos no país. O partido conseguiu, em 1851, aprovar uma lei de proibição em Maine. Durante os próximos 3 anos, aquela lei espalhou-se para mais 12 estados.
Juntando-se a estes estados em 1855, o estado de Nova Iorque aprovou o ato de “Regulação de Vendas de Bebidas” assim como o ato de “Para Redimir a Intemperança, Pauperismo e o Crime” que declarava: “nenhuma pousada, taverna, gerente de hotel ou pessoa licenciada a vender bebidas deve vender ou doar qualquer bebida intoxicante ou vinhos de domingo, ou em qualquer outro dia em que uma eleição geral ou específica, ou uma reunião da cidade esteja sendo realizada...”
Por que fechar as lojas no domingo? A maioria dos homens trabalhavam 6 dias por semana e domingo era o dia de folga para beber e socializar. Proprietários, na maioria, irlandeses e alemães, ganhavam mais dinheiro no “Dia do Senhor”, quando os seus estabelecimentos estavam sempre lotados. Pareceu ser uma grande vitória para os advogados da sobriedade, mesmo que fosse seletivamente imposta. Então, “Os que Não Sabem Nada” receberam um golpe fatal.
A campanha de Abraham Lincoln contra a expansão da escravidão além dos Estados Sulistas não apenas o fez ganhar as eleições presidenciais, mas engatilhou a Guerra Civil Americana e trouxe a cessão do Partido “Os que Não Sabem Nada”, os quais se racharam com a questão da escravidão.
A medida que a luta crescia, o exército da União chamou reforço. Homens bem sucedidos pagavam a pesada Taxa de Comutação de US$300 para se esquivar do recrutamento, mas os irlandeses, alemães e as classes dos trabalhadores foram pressionados a pegar em armas.
Desde a Revolução de 1776, a bebedeira era uma instituição duradoura entre os soldados americanos. Na Guerra Civil não foi diferente. Antes da Confederação se render, apenas 3 estados de New England recusaram repelir a proibição de bebidas.
Em meio à Guerra, cervejas e bebidas destiladas foram taxadas para liquidar as despesas militares. Seis anos depois, esse imposto aumentou 10 vezes, mas o crescimento não impactou o consumo de álcool. A pressão dos civis cresceu. Fora das grandes metrópoles, os pregadores evangélicos mexeram com as paixões dos americanos agricultores, principalmente as mulheres.
A Women’s Christian Temperance Union (WCTU) realizou a sua primeira convenção nacional em 1874, em Cleveland, Ohio. A sua plataforma de reformas sociais trazia a proibição ao álcool no topo de uma lista que incluía decretos de leis trabalhistas para proteger mulheres trabalhadoras da exploração dos homens empregadores, para banir a prostituição e banir os domingos de atividades frívolas como golfe. Mulheres “não americanas” como católicas, judias, afro-americanas e estrangeiras não eram aceitas na WCTU. Líderes firmemente acreditavam que os estrangeiros, especialmente os irlandeses e alemães, eram propensos ao alcoolismo e responsáveis pela sua expansão. Nova Iorque, com a sua população de imigrantes e proliferação de bares e cervejarias ao ar livre (beer gardens) eram alvos preferenciais da propaganda da WCTU.
Desde 1874, alguns governos estaduais adotaram uma nova tática para reduzir o consumo de álcool: aumento do preço da licença de venda de bebidas (por volta de US$500-$1000, aproximadamente US$12.000-$24.000 em valor atualizado). Mas o contrabando desenfreado e as vendas sem licença mantinham as classes trabalhadoras supridas, enquanto a família de bebedores da classe média acharam uma nova opção. Com a intenção de reduzir o número de bares, o Ato 1888 Alta-Licença de Brooks aumentou a taxa de licença de um estabelecimento ou bar de US$50 para US$500. Em vez disso, deu ao mundo um novo termo – “speakeasy", os bares clandestinos.
Como um jornal de Ohio reportou: “Em Pittsburgh, eles chamam o lugar aonde as bebidas são vendidas sem licença de “speak easy” (fale baixo)". Parece que a tendência surgiu em McKeesport, periferia de Pittsburgh, aonde a gerente de bar clandestino Kate Hester era conhecida por acalmar clientes barulhentos sussurrando, “speak easy, boys!” (falem baixo, meninos!). Logo, foi popularizado na Filadélfia e a partir daí a noção foi espalhada de que para beber em estabelecimentos ilegais implicava que os clientes habituais tinham que falar "suavemente", para não despertar a atenção da polícia.
Porém, não foi assim que a expressão se originou. Uma parábola foi publicada várias vezes em jornais de todo o país por pelo menos vinte anos sobre um pai irritado com o seu filho mais novo, que respondeu com uma súplica em lágrimas, “calma, pai” ("speak easy, father"). A expressão era para encorajar todos os membros da família a “falar suave” para criar um espírito de harmonia no lar. Então, "speak easy" já estava na mente das pessoas há algumas décadas, até que descobriram um uso efetivo para a expressão .
Nessa parábola, o termo “speak easy” não foi usado como uma senha. Significava manter uma linguagem civilizada e educada. O termo, usado nesse contexto, apareceu fora da parábola também. Um número de escritores, críticos da postura das pessoas que preferiam evitar conflitos de qualquer maneira, para ficarem livres de qualquer diferença de opinião para manter a paz, diziam que a América estava em perigo de se tornar “um grande speakeasy, pela oposição de algumas pessoas em terem conversas”. Assim, em um momento em que beber era associado negativamente com comportamentos violentos e crimes, "speakeasy" era também uma lição em educação e beber com responsabilidade.
Palavras que seriam provadas indisputáveis décadas mais tarde, apareceram no The World, de Nova Iorque, em 1895: “O 'falar baixo' sempre foi a resposta quando a Lei Seca era tentada...se nós não tivéssemos nenhuma cruzada intolerante, nenhum bar clandestino existiria”.
Ainda assim o grito pela proibição da bebida era apenas um sussurro a oeste do rio Mississippi. Entre 1860 e 1900, o número de bartenders e donos de bares do Kansas até a Califórnia aumentaram de 4.000 para quase 50.000: 40% eram imigrantes recentes, 25% destes tinham descendência alemã. Contudo, beber sem restrições no oeste não durou muito. Em junho de 1900, Deus falou com uma tal de Carrie Nation, mulher de 1,80m, nascida em Kentucky, advogada da temperança que ganhara aprovação divina para a sua causa.
Respondendo a esse epifania, ela reuniu várias pedras grandes, encaminhou-se para o Dobson Saloon, em Kiowa, Kansas, e anunciou: “Homens, eu vim aqui para salvá-los de um destino de bebedeiras”. Ela dizimou o bar inteiro com o seu arsenal de pedras. Dramaticamente empunhando um machado, ela repetiu seu desempenho em outros dois bares da cidade. Então continuou seu tumulto através do Missouri e foi presa mais de 30 vezes em uma década.
Carrie Nation finalmente sucumbiu durante um discurso, no dia 9 de junho de 1911, morreu e foi enterrada em uma sepultura anônima em Belton, Missouri. O Women’s Christian Temperance Union ergueu uma lápide para ela com um epitáfio onde se lia: “Fiel a causa da Lei Seca, Ela fez o que pôde”.
O feminismo deu seus primeiros passos graças a Carrie Nation e a WCTU, como o primeiro fracasso para acabar com o álcool, um marco significativo para o começo do Experimento Nobre. A luta ia ficar feia.
Para colocar o período imediatamente antes da Lei Seca em contexto, a Primeira Guerra Mundial oficialmente iniciou-se em 28 de julho de 1914, quando os Austro-Húngaros invadiram a Sérvia, e a Alemanha invadiu a Bélgica, Luxemburgo e França. Mesmo que os EUA não tenham entrado na briga até 6 de abril de 1917, sentimentos anti-alemães começaram emergir seguindo a morte de 128 americanos em maio de 1915 durante o naufrágio do RMS Lusitânia pelo submarino alemão U-20. Jornais em Nova Iorque e outras cidades publicaram os nomes e endereços dos alemão-americanos, rotulando-os como “inimigos estrangeiros” e a Cruz Vermelha barrou os alemão-americanos de serem voluntários, por medo de sabotagem. Uma violência em massa surgiu nos estados do meio-oeste – sede de várias cervejarias "alemãs" de lager.
Em novembro de 1917, o Presidente Woodrow Wilson emitiu uma proclamação, restringindo o emprego e viagem dos homens americanos descendentes de alemães acima da idade de 14 anos. O New York Times reportou que a ordem diretamente afetou 130.000 homens somente na grande Nova Iorque e no nordeste de Nova Jersey.
Os defensores da Lei Seca pegaram carona, afirmando que era patriótico conservar grãos pelo o esforço de guerra: beber cerveja ou álcool era, portanto, antipatriótico. A produção de cerveja entrou em recessão e os alemães donos de bares e cervejarias viram um declínio em seus negócios.
A Grande Guerra ajudou também a causa da Women’s Christian Temperance Union, cuja plataforma incluía o sufrágio das mulheres. A WTCU acusou a União de Cervejeiros dos Estados Unidos a investir nas atividades anti-sufrágio e, em 1919, o Senado dos EUA lançou uma investigação para a alegação. Mas foi a Liga Anti-Bares que levantou a maior bandeira, botando pressão nos políticos para levar os cidadãos a um frenesi patriótico – uma verdadeira nação americana deve ser uma nação sóbria.
O Presidente Wilson já havia cometido suicídio político ao não envolver as tropas americanas imediatamente na guerra. Para piorar, ele era fortemente contra a Lei Seca. A pressão tanto dos proibicionistas e dos lobistas das sufragistas era demais para os o Congresso agüentar. Qualquer senador ou representante de estado que não foi posto no governo pela Liga Anti-Bares ou por outros grupos similares, logo perceberam que a reeleição significaria sucumbir às pressões.
Em 18 de dezembro de 1917, a 18a. emenda da Constituição dos EUA (conhecido como Ato de Volstead) foi aprovada pelo Congresso. A ratificação por 36 estados foi completa em 16 de janeiro de 1919, quando Nebraska deu a sua aprovação. Wilson perdeu território, exceto em Connecticut e em Rhode Island, que foram os únicos dois estados a rejeitar a emenda. Ele apelou para o Congresso aprovar a 19a. emenda, que garantia o voto feminino, em 1915, 1918 e no começo de 1919. O tempo corria rumo março de 1920, data da eleição presidencial. Ele chamou o Congresso para uma seção especial em 21 de maio de 1919. A emenda finalmente foi aprovada, mas já era tarde para salvar a sua carreira.
Então o que exatamente o Ato de Volstead anunciou para o álcool? Em parte, anunciou: “Depois de um ano da ratificação desse artigo, fica proibida a manufatura, venda e transporte de bebidas intoxicantes para fins de consumo, incluindo sua importação ou exportação, dentro dos Estados Unidos e todos os territórios sujeitos à sua jurisdição”
Em inglês simples, isso efetivamente cancelou a produção e venda de todas as formas de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos. Em certa cidade, uma fábrica indústria de bebidas foi literalmente implodida véspera da ratificação.
No dia 15 de janeiro de 1919, às 12:40, as pessoas de Boston descobriram que o normalmente inerte melaço podia mover-se em alta velocidade, mesmo em janeiro. A temperatura subiu de -17C para +6C em uma única manhã. No pátio da Companhia Industrial de Álcool dos Estados Unidos, um tanque de ferro fundido de 90 pés de largura cheio de melaço bruto aguardando transferência para a Companhia de Destilação de Pureza em Willow Street rompeu-se, espalhando o seu conteúdo na Commercial Street. Um tsunami de 5 metros de altura de 9.5 milhões de litros de melaço atravessou a estrada de ferro na estação elevada da Atlantic Avenue quebrando as vigas e levantando um trem fora dos trilhos. O píer North End foi empurrado para o porto com a força da onda. O pier de North End tornou-se um lago de melaço. Vinte e uma pessoas e uma dúzia de cavalos se afogaram em uma massa melada. Cento e cinqüenta pessoas ficaram feridas.
A Grande Inundação de Melaço marcou o fim da produção de rum em New England. A região havia aumentado dos anos 1640 para se tornar o maior produtor de rum do mundo. Mas quando os sinos da igreja soaram pela cidade no dia seguinte, não foi pelos mortos – as pessoas estavam celebrando a ratificação do Ato de Volstead.
Quando a Lei Seca entrou em efeito, em 16 de janeiro de 1920, não era como se os americanos não conseguissem encontrar mais bebidas. Possessão e consumo de bebida em propriedade privada ainda era legal. Americanos bem sucedidos estocaram adegas privadas de vinhos e destilados, tanto domésticos como importados, em suas casas e financiado os inventários dos seus clubes privados. A própria Casa Branca foi bem abastecida com estoque privado de destilados, trazido pelo novo Presidente eleito Warren G. Harding.
Uma punhado de empresários visionários americanos e canadenses, incluindo Joseph P. Kennedy e James Roosevelt (filho de Theodore), formaram uma fundo de investimento em 1925. Eles enterraram seu dinheiro em destilarias estrangeiras, apostando que os preços das ações iriam disparar com a revogação.
Enquanto vários talentosos bartenders, como Harry Craddock e Eddie Woelke, foram para Inglaterra e Cuba, respectivamente, para servir o comércio de turistas americanos bem sucedidos, alguns mantiveram ou asseguraram postos domésticos em clubes privados, como Tom Bullock, que se manteve no Clube Privado St Loius, servindo senhores bem sucedidos como George Herbert Walker, avô de George W. Bush. Outros, como Henry C. Ramos (criador do Ramos Gin Fizz), que estava em seus sessenta anos, fechou as portas de seu estabelecimento e se aposentou, enquanto a sua equipe de funcionários mudou-se para o México.
As religiões contrárias à Lei Seca (Católicos Romanos, Ortodoxa Oriental e Igrejas Episcopais) compraram vinho de comunhão de armazéns ligados ao governo. Cidadãos privados eram permitidos a produzir pequenas quantidades de vinho e sidra para consumo caseiro. Na verdade, um rótulo do Departamento de Agricultura dos EUA em embalagens de suco de uva da Califórnia claramente dizia que se o suco fosse fermentado por 60 dias, iria render um teor alcoólico de 12%.
Cervejarias com capacidade de maltagem própria, como a Anheuser-Busch, Pabst, Miller e Schilitz sobreviveram vendendo xarope de extrato de malte para cozinhar e para “bebidas” em lojas de malte e lúpulo, que também servia para fazer uma “quase cerveja” (lager produzidas com força total, diluída a 0.5% de teor alcoólico e rotulada como “bebida de cereal”). Freqüentemente, álcool era adicionado por vendedores ilegais que injetavam pelo barril ou garrafa. Por isso era chamado de “cerveja batizada” ou “cerveja de agulha” (needle beer).
Farmácias tornaram fornecedores de bebidas. Um esperto bebedor iria encontrar um entre os 35.000 médicos que tinham licença para escrever uma prescrição para “spiritus frumenti”(destilado de milho) para ser administrado oralmente apenas uma, duas ou três vezes ao dia. Prescrições eram válidas somente por 7 dias, mas eram facilmente renovadas. Os destilados produzidos pela Companhia Americana de Destilados Medicinais (que antigamente produzia o Old Grand Dad Whiskey) foram distribuídos para tratar qualquer tipo de doença, de indigestão a tensão nervosa a constipação a depressão. Estocados em 27 armazéns pela nação haviam 15 milhões de galões de uísque: suficientes para preencher milhões de prescrições. Contanto, essa não era a única bebida prescrita. Alguns foram longe como prescrever Champanhe.
Existiam farmácias que importavam e distribuíam outro produto. Digestivos amargos não foram banidos. Campari e Fernet Branca eram prontamente disponíveis nos Estados Unidos e podiam ser trazidos para casa abertamente por turistas retornando da Europa. Felizmente, o paladar do governo americano não podia imaginar que outras culturas bebiam isso por prazer.
Uísque americano sempre foi um destilado de rebeldes. Produtores coloniais tiveram que mudar para Pensilvânia ocidental, Kentucky e Tennessee para exercer a sua liberdade de comércio oferecida pelo deserto e assim desafiar o Imposto do Uísque de George Washington de 1791. Vários descendentes reiniciaram a batalha ancestral contra o governo.
Embora os destiladores tenham fechado os seus alambiques, os clandestinos (moonshiners) continuaram sua velha tradição de fazer “white mule”. De acordo com o químico Federal John W. Fonner, que estava encarregado de testar as amostras confiscadas, os melhores destilados clandestinos (moonshines) vinham de Peoria, Illinois, que tiha 73 destilarias de uísque (não incluindo as 24 cervejarias) antes da Lei Seca. Em 1922, ele já havia analisado cerca de 26.000 amostras ilícitas de “white mule” ao redor da nação e especulou que os destilados de melhor qualidade eram os de Peoria, devido aos inúmeros e talentosos destiladores desempregados da cidade.
Alambiques construídos com panelas de cobre e condensadores feitos de velhos radiadores de carros, banheiras, caldeiras e chaleiras transformaram os destiladores clandestinos em heróis desconhecidos em áreas rurais. Mas os destilados que eles produziam eram algumas vezes letais. Glicol e envenenamento de chumbo pelo radiadores e as soldas fizeram surgir o adágio “chumbo queima vermelho e te mata”. Para aumentar o teor de álcool aparente no destilado finalizado, alguns nefastos destiladores clandestinos adicionavam metanol e lixívia, que aumentavam a sensação de queimação. Muitos bebedores ficaram cegos e vários morreram.
Aromatizantes de bolo achados na seção de produtos de panificação nos supermercados adicionavam glicerina (para aumentar a doçura e suavidade) com extrato "artificial" de rum, conhaque, uísque e gin, que poderiam ser misturados com o destilado e água. Por causa da garrafa do produto final ser muito longa para encher na pia, muitas vezes ele tinha que ser diluído usando a torneira da banheira. Assim, o gin de banheira nasceu. Mesmo em mãos habilidosas, o produto final tão bom quanto as essências baratas e bebidas destiladas brutas.
“Blind pigs (porcos cegos)” e “blind tigers (tigres cegos)” existiam há tanto tempo quanto os speakeasies, mas tinham mais em comum com as tavernas do que com os lounges elegantes de coquetel. Cerveja batizada, bebida podre e destilados clandestinos eram um bônus concedido de graça ao pagamento de 25 centavos na admissão para um cliente olhar um porco da Groenlândia ou outra criatura exótica. Popular nos estados do Deep South (Georgia, Alabama, Mississippi, South Carolinae Louisiana), um “tigre cego” era uma loja de uísque ilegal que operava em uma residência privada. Instruções impressas postadas em cima de um buraco ao lado da casa explicava o procedimento: o cliente deveria colocar uma garrafa vazia e o dinheiro no buraco. Em alguns minutos, uma garrafa cheia de uísque era retornada pelo mesmo buraco.
Na cidade de Nova Iorque sozinha, no final dos anos 20, supostamente havia cerca de 100.000 bares clandestinos, porcos cegos e tigres cegos. Speakeasies como o 21 Club e o Stork Club existem até hoje e despertam nostalgia. Aficcionados em jazz cresceram ouvindo histórias sobre casas do Harlem, como Jerry’s Log Cabin, The Savoy Ballroom e o Cat’s Corner, onde Billie Holliday, Louis Armstrong e outros grandes se apresentaram.
Assim como as antigas cervejarias ao ar livre, beber era apenas uma das atrações dos speakeasies. Comida, jazz, comédia, coquetéis e, em alguns lugares, um “dress code” transformavam uma noite fora em algo especial, para aqueles que conseguiam pagar.
A maior parte da renda de Detroit vinha de produtores de carros. Mas, durante a Lei Seca, a segunda indústria mais rentável era a de bebidas. 45 destilarias e cervejarias operavam legalmente em Ontário, Canadá, à uma curta distância, do outro lado da margem do rio que corta Detroit. Cerca de 25.000 blind pigs e speakeasies surgiram do lado de cá da margem, para servir as elites corporativas da cidade.
Chicago toda praticamente ignorou a Lei Seca desde a sua criação. Povoada amplamente por irlandeses, alemães, poloneses e italianos, a cidade era governada por políticos que estavam freqüentemente nos bolsos dos lordes do vício. Não é de se admirar que alguns bares da cidade – como o McGovern’s Saloon and Coffee – nunca se incomodaram em fechar suas portas. Chicago estimava ter 10.000 bares clandestinos e porcos cegos que eram financiados por duas facções criminosas.
No notório Levee District, no Near South Side, bebidas ilegais, apostas, prostitutas e crime organizado eram descaradamente servidos desde a World’s Columbian Exposition (dois vereadores do distrito eram donos de alguns bares e bordéis), em 1893. Mesmo com o declínio do Levee após a Primeira Guerra Mundial, era o principal ponto de operação para Big John Torrio e seu braço direito, Al Capone. Eles uniram as numerosas gangues ao sul do rio Chicago que traficavam bebidas clandestinas, bebida de banheira, cervejas e uísque canadense contrabandeado e rum caribenho.
Do outro lado do rio, no Near North Side, a gangue North Side negociava a produção de lager em cerca de meia dúzia de cervejarias na vizinhança, incluindo a Sieben Brewery de Chicago e a Peter Hand Brewing Company. Também tinha uma mercadoria tentadora: entrepostos aduaneiros cheios de uísque americano verdadeiro, como o Sibley Warehouse & Storage Company e o The Railway Terminal Ware House Company, fruto de assaltos em mais de uma ocasião.
Esses dois implacáveis rivais ficaram famosos pelos tiroteios sangrentos, enquanto eles lutavam por controle da cidade sem lei. Presa no meio, estava uma crescente população aterrorizada, vítima constante de crimes com armas de fogo. Não eram tempos fáceis para trabalhadores honestos. Sim, era suficiente para levá-los a beber.
Contudo, nem todo mundo era afortunado o suficiente para pagar um estoque privado de bebidas importadas, uma prescrição de uísque, obter a senha de um speakeasy ou blind pig, ter um destilador clandestino ou gangster na família, sem deixar de falar em pagar uma visita ao “blind tiger”.
Rum da baía e medicamentos patenteados como a Peruna do Dr. Samuel Brubaker Hartman (que tinha o forte teor alcoólico de 28% e em um momento foi mais conhecido como “Tônico da Lei Seca”) ajudaram a tirar a fissura de alguns bebedores. Mas esses líquidos causavam severa diarréia, cólica estomacal, falência renal, entre outras doenças.
Um dos casos mais tristes envolveu a bebida Jamaican Ginger Extract, apelidada de “Jake”. Um medicamento de patente precoce, Jake possuía 70-80% de teor alcoólico e sozinho não era perigoso. Jake com Coca-Cola começou a se tornar um drink popular entre a classe empobrecida e imigrantes recentes.
Então, o Departamento do Tesouro dos EUA, notando que o Jake tinha o potencial de burlar a Lei Seca, orbigaram os produtores a adicionar pelo menos 5 gramas de gengibre sólido por centímetro cúbico de álcool. Isso fez do Jake algo difícil de beber. Alguns moonshiners simplesmente substituíram o gengibre sólido por uma pequena quantidade de óleo de gengibre, óleo de mamona ou melaço para passar na inspeção.
Mas os destiladores clandestinos de Boston Harry Gross e Max Riesman, do Hub Products, acharam uma nova solução: Fosfato de Tri-o-Tolyl (TOCP), usado para fazer verniz e laca, também chamado de Lindol. Passou nos teste de governo para uso de bebidas e medicamentos e os consumidores acharam mais saboroso.
Mas havia uma problema. O TOCP tinha uma neurotoxina que causavam danos irreparáveis no sistema nervoso, especialmente para a medula espinhal. Um homem cambaleou para dentro do Reconstruction Hospital de Oklahoma City, em 30 de fevereiro de 1930. O Dr. Ephraim Goldfain o atendeu: o pé do homem balançava como uma marionete; as suas pernas estavam entorpecidas, paralisadas e sem função para baixo do joelho. No final do dia, vários homens apareceram com a mesma condição. Uma vítima, que era um podólogo, entregou uma lista a Goldfrain de 65 pacientes que ele mesmo havia tratado. A causa ainda era um completo mistério e a epidemia espalhou-se, especialmente no Leste, Sul e Meio-Oeste. Parecia ter afetado os pobres e imigrantes vivendo em bairros miseráveis. Vítimas perderam o controle do músculos de suas pernas e mãos de uma a três semanas depois de beber o Jake. Alguns homens se tornaram permanentemente impotentes. Alguns ficaram paralisados. “Jake walk” (andar de Jake), “Jake leg” (perna de Jake) e “Jake paralysis” (paralisia de Jake) tornaram-se expressões comuns. As vítimas eram primeiramente de níveis inferiores da sociedade e o governo foi lento ao responder a crise.
Eles finalmente rastrearam a fonte de milhares de galões de Jake e, em dezembro de 1930, indiciaram Gross e Reisman. Ninguém sabe ao certo quantas vítimas o Jake realmente causou. Ninguém sabe quantas pessoas morreram. A estimativa era de 30.000 a 50.000 vítimas pobres ou atingidos pela pobreza de costa a costa, somente nas estatísticas que foram liberadas. Compare isso ao pânico pan-Europeu recente aonde 20 pessoas morreram de um surto de E. Coli.
Com a falência do mercado de ações em 1929 e o começo da Grande Depressão, não foi fácil para o povo para de beber. Junte uma economia aleijada e o desemprego desenfreado com crime organizado e publicamente violento, aplicação da lei tendenciosa a etnias, corrupção governamental, morte devido à bebidas tóxicas e não regulamentadas, tribunal e sistema prisional que não podiam lidar com a superlotação e cidadãos normais que simplesmente não concordavam com os extremistas de direita que haviam sido votados ao poder. Os EUA se tornaram-se um país de terceiro mundo, com uma maioria oprimida lideradas por lordes do crime e políticos corruptos. A realidade da Lei Seca era mais "Batman Begins" do que "A Ceia dos Acusados".
Várias mulheres que antes lutaram pela Lei Seca e voto feminino fizeram campanha para a revogação. Pauline Sabin, uma socialite nova-iorquina e ativista na política Republicana, comentou uma vez que: “Eu senti que deveria aprovar porque iria ajudar os meus dois filhos. O jogo de palavras dos agitadores me convenceu. Eu achei que um mundo sem bebida seria um mundo lindo.”
Mas então ela percebeu que os homens que apoiavam a aplicação rigorosa da Lei Seca bebiam coquetéis atrás de portas fechadas. Ela também chegou a conclusão que “crianças estavam crescendo com uma completa falta de respeito pela Constituição e pela lei.”
Ela formou o Women’s Organization for National Prohibition Reform (WONPR) em Chicago, em maio de 1929, junto com as esposas de alguns líderes industriais americanos. Muitas donas de casa da classe média americana viam como uma maneira de conviver com as mais privilegiadas. Outras, estavam desencantadas com as promessas de uma sociedade utópica que havia se tornado mais como um purgatório. Membros cresceram até 1.5 milhões em dois anos, abraçando mulheres de todas as classes econômicas, e surgiram capítulos em 41 de 48 estados.
A WONPR não estava sozinha. Juntaram-se a ela a Association Against the Prohibition Amendment, Voluntary Committee of Lawyers, The Crusaders e American Hotel Organization, que formaram o United Repeal Council, que fez lobby nas convenções Republicanas e Democratas de 1932. Oito outros grupos nacionais e regionais de interesse especial adicionaram pressão em níveis nacionais e regionais. Mas, os Republicanos continuaram a defender o Grande Experimento. Então, a WONPR e outras organizações inicialmente não partidárias se uniram à campanha presidencial Democrata e forçaram sua plataforma: a Revogação da Lei Seca.
Foi realmente uma surpresa quando o Governador de Nova Iorque Franklin D. Roosevelt ganhou a eleição presidencial de 1932? Nas profundezas da Grande Depressão, ele prometeu um New Deal (Nova Proposta) para alívio econômico e programas de recuperação, assim como reformas no sistema bancário e mercado de ações. Ele também garantiu a revogação da Lei Seca.
O Congresso tomou o seu primeiro passo em 20 de fevereiro de 1933 quando propôs a 21ª Emenda. Foi o primeiro. Foi a única mudança constitucional aprovada que explicitamente revogava a emenda anterior. E foi também a única a ser ratificada por um referendo nacional de um estado e um voto. Foi completamente contornado por ratificações de legislaturas estatais individuais. Em outras palavras, os eleitores tinham voz e não os políticos.
Roosevelt tomou o próximo passo em 20 de fevereiro de 1933 ao assinar o Ato Cullen-Harrison, que autorizava a produção e venda de vinhos e cervejas de 3.2% de álcool por volume.
Pode-se pensar que com a revogação, cerveja, vinhos e bebidas fluíram em um fluxo infinito de alta qualidade. Na verdade, o álcool pós-Lei Seca uma pessoa bebia era muito abaixo da qualidade média.
A Revogação era uma vitória doce e amarga para as destilarias de uísque americano. Aqueles que se ficaram no negócio e conseguiram manter seus alambiques parados por mais de uma década, agora enfrentavam uma avalanche de desafios. Eles não possuíam capital ou crédito. Vários trabalhadores qualificados tinham aposentado ou morrido sem passar o seu conhecimento para a próxima geração. Mesmo quando os alambiques voltaram à ativa, o primeiro uísque não estaria pronto para a venda por anos, já que era necessário o envelhecimento em barris. Tudo o que eles conseguiam produzir rapidamente deveriam ser vendido a preços baixos, pois a nação ainda estava se recuperando da Grande Depressão.
Mais um golpe arrasou com a esperanças de vários produtores americanos de bebidas: três anos de seca e práticas agrícolas degradantes ao solo, introduzidas pela invenção do trator, desencadearam um pesadelo ambiental.
Começando em 11 de novembro de 1933, uma série de tempestades de terra espanou o pouco do solo vegetal que permanecia nos campos devastados do cinturão de grãos. As chuvas retornaram em tempo para os EUA entrarem na Segunda Guerra Mundial, em 1941, e os grãos foram usados em serviço para suprimentos em tempos de guerra.
Destiladores de uísque norte-americanos secretamente mandaram agentes ao Noroeste do Pacífico para comprar batatas. Sem a necessária experiência em como devidamente fermentar e destilar as batatas, os resultados eram menos que impressionantes. Açúcar de beterraba oferecia uma alternativa, mas custava mais aos produtores, porque tinham que competir com os produtores de açúcar pelo produto. Aromas artificiais e corante caramelo foram adicionados para disfarçar as receitas alteradas. (A guerra também afetou os produtores de gin Britânico, como Plymouth, que foram forçados a recorrer ao açúcar de beterraba até os anos 50.)
De fato, o colapso da produção realmente não terminou até o começo dos anos 80, quando a identidade de marca e nome de marca tornou-se a tendência do momento. Isto demandou um retorno da alta qualidade e autenticidade.
Confrontado com bebidas alcoólicas de má qualidade durante e após a Lei Seca, qualquer um que tivesse iniciado carreira de bartender teve que saber disfarçar o gosto ácido do destilado. Apelando para o paladar infantil por coisas doces era a resposta: licores açucarados e sucos de frutas predominaram nas receitas de coquetéis. Rum era um destilado que nunca perdeu qualidade, por isso que os coquetéis tiki chegaram ao topo da lista entre as estrelas de Hollywood, enquanto Havana continuou como um parque de diversões de ricos e famoso até a revolução.
O crime organizado tinha o controle completo do mercado de rum. Chefes do crime como “Lucky” Luciano e Meyer Lansky simplesmente ampliaram os seus relacionamentos com destiladores cubanos, que foram estabelecidos durante a Lei Seca. Eles não somente investiram em muito em novos cassinos e hotéis cubanos, mas também subornaram o presidente da ilha. Quando os destiladores cubanos moveram suas operações para o território americano em Porto Rico para evitar o imposto especial de importação no rum cubano, os canais de distribuição americanos despejaram rum nos restaurantes, hotéis, cassinos e casas noturnas que eles controlavam no continente.
Enquanto isso, o filho do Presidente Franklin D. Roosevelt e o magnata pai do Presidente John F. Kennedy asseguraram os direitos de distribuição e tinham uma frota de navios no alto mar que inundou o mercado com uísque escocês antes mesmo da tinta da revogação ter secado. Kennedy comprou direitos de importação das Indústrias Schenley, do Canadá, e uísque canadense inundou o sul. Assim, a recuperação pós-Lei Seca da destilação americana foi longa e dolorosamente lenta.
Mesmo que a ratificação tenha sido completada em 5 de dezembro de 1933 por 36 estados, ainda haviam detratores. Carolina do Norte e Sul rejeitaram a emenda.
Com a revogação, o governo federal lavou suas mãos do controle de bebidas, entregando o poder aos estados e autoridades locais. Hoje, existem 19 estados que possuem o monopólio de vendas de bebidas. E ainda existem condados, cidades e vilas "secas" no Estados Unidos.
A Lei Seca foi o período petulante e da alegria tola dos speakeasies, que terminou com o Presidente Roosevelt misturando um Martini na Casa Branca na noite em que a ratificação foi revogada? Obviamente que não. A indústria ainda estava se recuperando dos danos, uma recuperação que em parte foi feita graças a profissionais de bar, que redescobriram práticas e receitas pré-Lei Seca e devolveram o profissionalismo ao negócio.
E de que forma a Lei Seca continua nos EUA hoje em dia? Oitenta anos depois, ainda existem mais de 200 condados “secos”, que parcial ou completamente restringem o consumo de álcool. Também há varias outras áreas aonde cidades e vilarejos “secos” votaram para permitir a venda de álcool, fazendo deles “molhados” ou parcialmente secos.
Doze estados ainda banem a venda de destilados aos domingos, incluindo: Alabama, Indiana, Minnesota, Mississippi, Montana, Carolina do Norte, Oklahoma, Carolina do Sul, Tennessee, Texas, Utah e West Virginia. Notadamente, Indiana continua o único estado do país a ainda banir todas as vendas de cervejas, vinhos e destilados em lojas de bebidas aos domingos.
Seis estados ainda banem qualquer forma de amostragem de destilados em pontos de venda, incluindo: Alaska, Geórgia, Montana, Carolina do Norte, Oklahoma e Utah.
Todo ano, contudo, vários lugares secos estão lentamente votando para permitir a venda de álcool, principalmente porque eles temem perder seus negócios para seus vizinhos que não sofrem restrições por tais leis.
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