Escrito por Marcelo Sant'Iago
Fotos por Marcelo Sant'Iago
Estive na cidade há pouco mais de um mês, para visitar diversos bares, aproveitando que nessa época, com o fim do inverno e aumento da temperatura, a maioria deles muda suas cartas de coquetéis. Ao contrário do Brasil, onde temos bares com cartas que parecem eternas, lá, a maioria muda pelo menos uma vez por ano, de outono-inverno para primavera-verão e vice-versa.
Bebe-se muito bem em Nova York. Mas também nem tudo são acertos em uma das capitais da coquetelaria mundial.
Visitei 15 bares em 5 dias para analisar não apenas os coquetéis em si, mas também a apresentação dos drinks no menu, o ambiente, conforto para o convidado (tanto na mesa, quanto balcão), iluminação, música, opções de comida, variedade de bebidas e, super importante, a hospitalidade. Enfim, requisitos que fazem de um bar um grande bar, como gosta de dizer Simon Difford.
Cruzei Manhattan de norte a sul, de leste a oeste: do Harlem até Battery Park; do West Village ao Lower East Side. Também visitei o Brooklyn.
Nesta visita optei por deixar de fora os medalhões mais consagrados, como Dead Rabbit, Employees Only, Death&Co, PDT, Attaboy, Clover Club e afins, para visitar apenas novos bares, que considerei aqueles que abriram as portas em 2016, salvo raras e especiais exceções em 2015.
Consegui identificar algumas tendências bem claras:
- Amaro italiano está em alta, assim como aperitivos tradicionais franceses, como Lillet (branco e rosé), Bonal, Suze e Byrrh, que você raramente encontra no Brasil.
- Abundância de infusões florais, como flor de cerejeira e lavanda, e frutas. Chartreuse sendo bastante usado, para dar complexidade herbal, assim como absinto.
- Mezcal e rum (muitas vezes infusionado) estão entre os mais populares destilados para base. Vi mais de um bar com drinks usando Bison Grass vodka também. Será um renascimento do destilado preferido de Putin?
- “mini-coquetéis”, normalmente clássicos, em porções reduzidas.
- Garrafinha de mini-bar para compor o coquetel. Normalmente elas vêm espetadas de cabeça pra baixo no drink. Você daí regula a quantidade de álcool conforme for bebendo. Dá um aspecto inusitado e divertido em tikis e hi-balls.
- Adeus Gin Tônica X-salada hipster, olá Vermute & Tônica, um velho conhecido dos italianos para a hora do Aperitivo. Aliás, adeus Gin Tônica, que aparece apenas como opção na parte dos clássicos, mas sem firulas.
Dois outros pontos que gostaria de ressaltar e que quem já conhece os bares novaiorquinos sabe que não é exatamente uma tendência, pois a maioria lá trabalha assim desde sempre:
- Rapidez na entrega dos pedidos é fundamental na cidade que nunca dorme. Em todos os bares - dos mais simples aos mais sofisticados, independentemente do volume de clientes, todos os drinks - dos mais simples aos mais elaborados, saem rapidamente. Isso contrasta com o que vemos em muitas casas por aqui.
- Decoração (“garnish”) descomplicada ou mínima. Isso já é assim nos bares consagrados, não apenas em Nova York, mas também Londres e Japão. A exceção são coquetéis autorais onde a decoração faz parte da experiência do drink, como no caso do R.O.K.C. (veja abaixo). Mas, mesmo assim, elas não podem prejudicar a forma de consumir.
Tenho lido e ouvido muito que a tendência são drinks mais leves, com menos álcool. Olha, não foi exatamente o que vi lá: para minha alegria, que prefiro os coquetéis mais potentes, as cartas estão bem equilibradas, com opções para todos os gostos e de perfil de sabor variado.
Em Manhattan há lugares incríveis exclusivamente voltados a uísques (de todas as nacionalidades e tipos) e brandy/conhaque. É meu sonho ver algo assim aqui no Brasil, mas infelizmente os altos impostos impedem que marcas mais premium fiquem disponíveis a uma maior parcela de discerning drinkers brasileiros. Estou falando de bares com centenas de opções na prateleira e não dezenas.
Bom, mas afinal quais foram os melhores bares? Se você estiver de viagem marcada para Nova York, não deixe de visitar, por ordem alfabética:
Bar Goto, 245 Eldridge St, Lower East Side, Manhattan
Este izakaya com decoração minimalista abriu em 2015 e é uma das exceções especiais à minha regra de bares abertos em 2016. Este ano foi finalista no Spirited Awards como Best Cocktail Bar. Kenta Goto ficou 7 anos no Pegu Club antes de abrir seu próprio balcão no Lower East Side, na mesma rua do consagrado Attaboy. Todos os 10 coquetéis têm inspiração oriental e custam 15 dólares. Há outros 3 especiais da casa entre 13 a 15 dólares. Se você gosta de algo potente, vá de Improved Shochu Cocktail (shoshu de cevada, bison grass vodka, Douglas fir), que é a primeira foto da página. O Jasmine-Apricot 75 é uma versão deliciosa, floral e complexa do clássico French 75 e leva champanhe brut, gin, limão siciliano, jasmin e damasco. No balcão, Mathew Resler trabalha sozinho, de forma discreta e elegante. Para comer, pequenas porções e variedade de okonomi-yaki, pequena panqueca servida com diversos ingredientes.
Diamond Reef, 1057 Atlantic Ave, Brooklyn
O novo empreendimento de Sam Ross e Michael McIlroy é completamente diferente do Attaboy, também de propriedade da dupla. Em uma espaçosa casa no Brooklyn, com um quintal que com certeza vai arrebentar no verão, eles servem uma carta enxuta com apenas 9 drinks (sendo 2 frozen) por 12 dólares e opções de cervejas e vinhos. O destaque fica com o Penichillin (clique na seta para ver a foto), uma refrescante versão frozen do clássico contemporâneo Penicillin, criado por Sam Ross nos tempos de Milk&Honey. Alguns podem torcer o nariz, mas eu achei uma delícia e tem tudo a ver com o bar, cujo salão e trilha sonora parecem ter saído diretamente do filme Carlito’s Way (O Pagamento Final), com Al Pacino. Para comer, há um trailer estacionado no quintal que serve espetinhos grelhados na hora. Fui de camarão e outro de barriga de porco. No dia da minha visita, Ross estava no bar, mas não preparando drinks.
Jupiter Disco, 1237 Flushing Ave, Brooklyn
Um dos 4 finalistas na categoria New Cocktail Bar, no Spirited Awards 2017, este não é todo mundo que vai gostar: o lugar é quase uma balada eletrônica, até pistinha tem. Mas os drinks são incríveis, assim como o ambiente, em um galpão em Bushwick, coração da hipsterland. Sem sinal à porta, preste atenção, senão você não encontra. Detalhe: não há menu impresso. Para consultar, veja no site ou nos monitores de tela preta e letras verdes espalhados pela casa, que dão um toque retrô-futurista. Aliás, essa é a inspiração do lugar: estilo industrial-futurista, como imaginado em filmes dos anos 80-90. Pense na cantina de Mos-Eisley, de Star Wars. Coquetéis entre 12-13 dólares, mas há uma seleção especial por 8 até 20h. Boas empanadas. Fica aberto até as 4 da manhã e lota no final de semana, por isso sugiro deixar para ir mais tarde ou chegar por volta de 23h, quando ainda está vazio. Depende de suas intenções.
Nitecap, 151 Rivington St, Lower East Side, Manhattan
O bar está no endereço atual há um ano. O menu virou de Outono-Inverno para Primavera-Verão no dia em que fui e está sensacional. No comando do balcão, Lauren Corriveau esbanja simpatia e habilidade. É um “dive-bar” (bar de bairro, sem frescura, onde quase todo mundo se conhece) incrível: porão de teto baixo, meia luz, som (anos 80-90) médio alto que não impede as conversas, alto astral e coquetéis deliciosos. Como não gostar? Meu favorito foi o Moon Landing Hoax, que mistura 2 rums, vermute tinto, shrub de abacaxi e bitters de limão. Ele é pré-preparado e mantido em uma linda garrafa de cristal (clique na seta para ver a foto). É servido em temperatura ambiente. Um perfeito after dinner ou, como o nome do bar diz, nitecap (saideira). Experimente também o mini-Bamboo que é servido de uma torneira. Drinks de 8-18 dólares, com tigelas de punch para até 6 pessoas por 80 dólares.
R.O.K.C. 3452 Broadway, Harlem, Manhattan
O R.O.K.C. (Ramen, Oyster, Kitchen, Cocktail) foi meu bar favorito. Fica no Harlem, com acesso fácil de metrô pela linha 1. Tetsuo Hasegawa (ex-Angel’s Share) toca sozinho o balcão de 8 lugares e salão com 7 mesas. Os 21 coquetéis autorais (entre 12-14 dólares) na maioria têm decoração extremamente elaborada (um deles é em uma lâmpada, outro em um pimentão congelado) e são igualmente deliciosos (clique na seta para ver as fotos). Mas nem por isso eles demoram para sair. Há 22 clássicos no menu também, mas fique nos autorais. Segundo ele, a carta muda 3-4 vezes por ano, mas não totalmente: ele substitui alguns drinks conforme a sazonalidade de ingredientes. O local é simples, tem apenas um banheiro unissex e é famoso também pelo seu ramen e variedade de ostras, que das 17h-19h custam 1,50 dólares. Se preferir, “bun” de porco e o de camarão apimentado são ótimas pedidas. Para fechar a noite, ele criou na hora um coquetel incrível para mim: vermute Dolin Blanc, uísque japonês Hibiki, Suze, absinto Vieux Pontalier e orange bitters. Chegue cedo, vale a pena!
Em tempo: sim, eu fui ao hypado Black Tail (Pier A Harbor House, 22 Battery Place), que venceu o Spirited Awards na categoria Best New Cocktail Bar. O ambiente é muito bonito, ao estilo de antigas bodegas cubanas, mas é um pouco ostentação demais, sem alma. Meus dois coquetéis estavam apenas regulares. Em agosto lançam uma nova carta. Vale a visita sem dúvida, mas, para mim, não foi uma experiência memorável.
Dante, 79-81 Macdougal St.
No calor, é obrigatória uma visita a esta casa tradicional, aberta em 1915, que acaba de vencer o Spirited Awards como Best Restaurant Bar. Sente nas mesas da calçada, aproveite a hora do aperitivo (16h-19h), que lá eles chamam de Negroni Sessions, e vá de Lavender Negroni por apenas 9 dólares (o preço normal é 14). O Boulevardier com Luxardo Bianco também é ótimo. Em seguida, ande 2 quadras e vá comer um delicioso e suculento Black Label Burger, no Minetta Tavern (113 Macdougal St.), um dos melhores da cidade.
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