Spirited Awards 2017 - análise dos vencedores

Words by Marcelo Sant'Iago

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Profissionais da indústria do mundo todo reúnem-se anualmente em New Orleans, berço de alguns dos drinks mais emblemáticos de todos os tempos, como o Ramos Gin Fizz, Vieux Carré e o Sazerac, que é o coquetel oficial da cidade, para participar de centenas de seminários, degustações, festas, guests bartendings, etc. Mas, o ponto culminante da semana é, sem dúvida, a entrega do Spirited Awards.

Semana passada aconteceu em New Orleans a 15a. edição do Tales of the Cocktail, o maior evento de coquetelaria do mundo. Como este ano o Difford’s Guide estava, mais uma vez, no Top 4 em Best Cocktail Publication, resolvi participar do meu segundo Tales e comparecer à entrega do Spirited Awards.

Em seu 11o. ano, o prêmio conta com 24 categorias, separadas entre Estados Unidos e Internacional e categorias únicas para publicações e autores. Somados a isso, temos os prêmios de World’s Best Cocktail Bar e Lifetime Achievement Award, que foi entregue para Charles Schumann. Após introdução feita por Dale DeGroff, Schumann começou um discurso interminável, até que King Cocktail voltou ao palco oferecendo uma bebida para ele encerrar, gerando gargalhadas de todos. Para mim, já foi uma noite memorável somente por poder ver duas lendas como essas juntas.

Este ano, o grande vencedor da noite foi o Dandelyan, bar do hotel Mondrian de Londres, que levou para casa 3 prêmios, incluindo o World's Best Cocktail Bar. Os outros dois foram Best International Hotel Bar (categoria que segue sendo dominada por Londres, com 3 entre 4 finalistas) e Best International Bar Team.

A categoria World's Best Cocktail Menu tinha peso-pesados no Top 4: Beaufort Bar (Savoy Hotel, Londres), Black Tail (Nova York), The Dead Rabbit (Nova York) e Trick Dog (San Francisco). O único menu que eu não conhecia era o do Trick Dog, que acabou vencedor. Agora fiquei bem curioso em conhecê-lo.

Na minha visão tivemos algumas surpresas, como por exemplo o ATLAS, de Singapura, não levar nenhum prêmio. Ele é um dos bares mais comentados do mundo atualmente e as conversas de bastidores davam como barbada sua vitória em pelo menos uma categoria, a de Best New International Cocktail Bar. Mas quem levou foi o Swift, de Londres, bar que nasceu com alto pedigree, pois entre seus sócios e investidores estão pessoas envolvidas em projetos de grande sucesso, como o Oriole e Nightjar. A outra que ATLAS era finalista, World's Best Spirits Selection, foi vencida pelo canon: whiskey e bitters emporium, de Seattle (EUA).

Já na categoria Best New Spirit or Cocktail Ingredient não houve surpresa: Italicus Rosolio de Bergamoto era o favorito, graças o brilhante trabalho feito por Giuseppe Gallo, seu conterrâneo italiano Simone Caporale e Alex Kratena. Lançado em 2016, é uma das bebidas mais comentadas do verão europeu, que apenas recentemente começou a ser distribuída nos EUA. Ele é um licor tradicional italiano de bergamota há muito desaparecido do mercado. Experimentei-o ano passado, durante a London Cocktail Week e é um ingrediente muito versátil nos coquetéis. Nosso Simon Difford fez uma avaliação completa do Italicus, basta clicar no link. Por aqui, não há data de lançamento, mas você pode ver uma garrafa na prateleira do Guilhotina bar, em São Paulo, que aliás foi top 10 na categoria Best New International Cocktail Bar, vencida pelo Trailer Happiness, de Londres (tratarei disso mais à frente).

Nas premiações dos EUA, destaque para Best American High Volume Cocktail Bar, vencida pelo Sweet Liberty Drinks &Supply Co., de Miami. Interessante que ano passado quem venceu foi o Broken Shaker, também de Miami. Com a abertura de novos bares de coquetelaria, como uma filial do Employees Only, a cidade começa a ganhar destaque na indústria.

O Black Tail, bar de inspiração cubana criado pelo time do Dead Rabbit, venceu como Best New American Cocktail Bar. Devo dizer que fiquei um pouco decepcionado ao visitá-lo em junho deste ano. É tudo muito perfeitinho, como um fast food temático, só que de coquetéis. Os drinks que experimentei não foram memoráveis também, mas ele estava entre os favoritos, em uma categoria que contava com o incrível Jupiter Disco entre os finalistas, esse sim um bar que recomendo a visita.

Jeff Bell, do PDT e queridinho da galera, levou American Bartender of the Year, e Shingo Gokan, que estava em nossa mesa e foi vencedor do Bacardi Legacy 2016, confirmou a boa fase e foi o International Bartender of the Year, batendo Erik Lorincz, Iain Griffiths e Nico de Soto.

E o Brasil?

Pela primeira vez o Brasil teve um finalista no Top 10: o Guilhotina Bar, de São Paulo, conseguiu um feito inédito para um bar brasileiro, ao figurar na lista dos 10 finalistas de Best New International Cocktail Bar. Além disso, Marcio Silva, um dos sócios do Guilhotina, foi indicado entre os 24 finalistas em International Bartender of the Year e o Guilhotina entre os 24 Best International High Volume Cocktail Bar.

Isso mostra que, mesmo sem nenhum brasileiro entre os 100 jurados do prêmio, é possível sim figurar entre os melhores do mundo. Por outro lado, é um trabalho que não envolve apenas fazer bons drinks e caprichar na hospitalidade para ser considerado nesse prêmio e no World’s 50 Best Bars: é preciso colocar o Brasil no mapa, através de um trabalho de relações públicas, para tornar nossos bares, drinks e bartenders conhecidos lá fora, especialmente pelos jurados. Até no Oscar esse corpo-a-corpo com os membros da Academia é fundamental, não bastam grandes bilheterias e críticas positivas. Esse ano, encontrei em New Orleans apenas Márcio Silva, Rafael Pizanti e Alex Mesquita dentre os profissionais que trabalham no Brasil.

Convidar profissionais de fora para vir aqui é outro caminho, mas temos que pensar também no inverso: exportar nossos talentos para temporadas ou “guests” mundo afora. As marcas podem ter um papel importante para apoiar e intermediar isso, por exemplo.

Há uma expectativa muito grande em colocar um brasileiro nessas listas, mas nosso mercado precisa primeiro se unir e entender a dinâmica para poder ser lembrado. Com certeza os resultados esperados virão em poucos anos, pois, nas palavras do próprio Simon Difford, após visitar São Paulo este ano: "conheci bares e bartenders brasileiros que poderiam estar fazendo enorme sucesso em Londres ou Nova York".

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