Words by Marcelo Sant'Iago
Photography by Daiquiris por Giuliana Nogueira (Instagram @giugnr )
Responda rápido: qual o drink favorito do brasileiro? A chance de você ter respondido caipirinha é enorme. Mas será que ela ainda impera absoluta em bares, baladas e festas de todo o país? Depois do movimento que despertou o interesse brasileiro pela cerveja artesanal, a coquetelaria vem ganhando seu espaço e, com isso, novos drinks vem caindo no gosto dos bebedores em geral.
Primeiro foram os hipsters com o Negroni, tradicional aperitivo italiano. Marcelo Cury, especialista em cerveja, coquetéis e colaborador do Difford’s Guide, tem uma teoria para essa nova paixão: “A cerveja artesanal que caiu no gosto do brasileiro foi o tipo IPA, mais amarga. A partir daí, na hora de escolher os drinks, o amargo Negroni foi um passo quase natural”.
O Moscow Mule é outro clássico – foi criado nos anos 40 – que entrou forte. Para quem acha que ainda é uma coisa nova, veja o que diz o bartender Marcelo Serrano, do grupo CGC: “Em 2012, no Brasserie des Artes, chegamos a vender 6.000 deles em um mês. O recorde foi mais de 580 em um dia”. Mas o Moscow Mule brasileiro ganhou contornos próprios: Serrano começou a finalizar seus Mules, ainda em 2009, com uma espuma de gengibre, para suprir a falta de ginger beer no mercado. Isso acabou virando padrão para o serviço em quase todos os bares até hoje.
Moscow Mule com espuma de gengibre por Marcelo Serrano
O coquetel que está no auge da popularidade é o britânico Gin Tônica, mas não em sua versão tradicional inglesa, com gin, água tônica e uma rodela de limão, servido em copo longo: o G&T brasileiro adotou a cultura espanhola de servi-lo em copo balão e “temperado” com especiarias, cítricos diversos e até mesmo preparado com gin infusionado. A maior prova desse sucesso foi a explosão de marcas de gins brasileiros nos últimos 18 meses. O país que só produzia cachaça agora está investindo em gins criados com botânicos típicos do Brasil, muito além do zimbro, que deve ser a base de todo gin clássico.
Gin Tônica
Pensando nisso, resolvemos conversar com algumas pessoas do mercado, para tentar descobrir qual será o próximo drink favorito do Brasil. Será algum clássico ou uma criação puramente brasileira? Qual drink pode ser a moda desse verão?
Spencer Amereno Jr., premiadíssimo bartender do Frank Bar, em São Paulo diz que “fica difícil falar do próximo drink que irá estourar em termos de consumo, pois as tendências que vimos até agora vieram de outros países. Espero muito que seja algo criado por aqui e com cachaça, de preferência. Torço para que o brasileiro saiba valorizar mais nosso destilado oficial”.
É uma boa aposta, afinal a cachaça também está em um trabalho de renovação muito forte, ganhando espaço em balcões e mesas muito importantes. O Rabo de Galo, que leva cachaça e vermute, é outro coquetel que assumiu ares sofisticados, com ingredientes mais nobres e processos que incluem inclusive o envelhecimento em barris de madeira.
Já Néli Pereira, do Espaço Zebra, aposta nos coquetéis e aperitivos italianos: “O uso de vermutes para drinks mais refrescantes pode ser bem recebido aqui no Brasil, especialmente no verão, quando os coquetéis com diluição maior são bem-vindos”. Ela também ressaltou o gengibre como um ingrediente que vem ganhando força em muitas cartas de coquetéis.
Um dos bares que trabalha bastante com gengibre é o premiado Guilhotina em São Paulo, do experiente bartender internacional Márcio Silva. Diversas das refrescantes opções ali servidas levam o ingrediente. Mas Márcio tem uma outra aposta: o Daiquiri, tradicional coquetel feito à base de rum. “O Daiquiri é muito versátil e o rum tem um sabor familiar ao brasileiro, já que ele também é feito de cana, assim como a cachaça”.
Tai Barbin, que comanda o Nosso, no Rio de Janeiro, é outro grande entusiasta do Rum e a carta de seu bar tem diversas opções com o destilado. Néli Pereira também coloca o rum entre seus favoritos e afirma que “ele pode ter uma performance similar à trajetória do gin aqui no Brasil”.
Existe uma corrente forte apostando que, na verdade, o sucesso do verão não será um drink, mas um mixer: a refrescante água tônica. Diversas casas já incluiram em seu menu Porto&Tônica, Vermute&Tônica, Campari&Tônica, etc.
Jéssica Sanchez, do Vizinho Gastrobar, no RJ, vai nessa linha e aposta também em drinks com vinho na base e nos coquetéis Spritz. Ela ainda defende que, "especialmente aqui no Rio, pelo calor, os coquetéis frozen tem tudo para pegar forte". Faz sentido. Adoro drinks frozen e esse ano, em visita a Nova York, experimentei um delicioso Penichillin, que é uma versão frozen do clássico Penicillin.
Penichillin, criado por Sam Ross
Outros drinks refrescantes como os coquetéis Collins e os coquetéis Fizz, em especial o Gin Fizz, são forte candidatos, pois são leves, refrescantes e fáceis de beber.
Mas, não vamos ficar em cima do muro: acreditamos que o clássico Daiquiri realmente tem potencial para ganhar muitos fãs brasileiros. É um drink versátil, que pode ser servido gelado em uma taça, on the rocks ou até mesmo frozen. Não é à toa que ele é o preferido de bartenders mundo afora, quando falamos em um drink refrescante, com a cara de um país tropical como o Brasil e, claro, Cuba, aonde foi criado. Além disso, apesar de sua receita básica ser simples (rum, suco de limão, açúcar e gelo), assim como na Caipirinha, a combinação funciona bem com frutas e especiarias. O fundamental é encontrar o equilíbrio entre acidez, diluição e dulçor.
Na próxima visita a seu bar ou restaurante favorito, faça o teste: peça um Daiquiri.
Aqui no Difford's Guide você encontra mais de 100 receitas de Daiquiri. Separamos 5 criações de Márcio Silva e Simon Difford que, com certeza, mostram o potencial do coquetel. Você pode experimentá-las no Guilhotina Bar, em São Paulo.
Daiquiri Clássico, por Márcio Silva
75ml Rum Bacardi carta blanca
25ml suco de limão
15ml xarope de açúcar
Bater com 2/3 gelo grande e 1/3 gelo pequeno
Servir em uma taça coupe gelada
Decoração: limão desidratado
Daiquiri Carrasco, por Márcio Silva
1 pitada noz moscada ralada na coqueteleira
30ml Rum Bacardi Ocho
45ml Rum Bacardi Ouro com infusão de especiarias
25ml suco de limão
15ml xarope caseiro de especiarias
4 lances de Angostura bitters
Bater com 2/3 gelo grande e 1/3 gelo pequeno
Servido com gelo no copo old-fashioned
Decoração: limão desidratado e noz moscada ralada
French Daiquiri, por Márcio Silva
75ml Rum Bacardi Carta Blanca com infusão de casca de abacaxi
15ml cordial de framboesa caseiro
25ml suco de limão
5ml licor Merlet creme de framboesas
Bater com 2/3 gelo grande e 1/3 gelo pequeno
Servir em uma taça coupe gelada
Decoração: abacaxi desidratado na borda
Ginger Daiquiri, por Simon Difford
60ml Rum Appleton estate
25ml suco de limão
15ml xarope de açúcar
5ml extrato caseiro de gengibre
1 lance Orange bitters
1 lance absinto
Zest de limão para borrifar óleos essenciais da casca
Bater com 2/3 gelo grande e 1/3 gelo pequeno
Servir em uma taça coupe gelada
Sem garnish
Opção: substituir Rum Appleton Estate por 75ml Rum Bacardi Carta Blanca
Daiquiri Manjericão e Mel, por Simon Difford
3 folhas de manjericão fresco na coqueteleira, sem macerar
75ml Rum Bacardi Carta Blanca
15ml xarope de mel silvestre
25ml suco de limão
Bater com 2/3 gelo grande e 1/3 gelo pequeno
Servir em uma taça coupe gelada
Decoração: folha de manjericão
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